Angra do Heroísmo e Cartagena vão ser cidades-irmãs

Entrevista da Vereadora Raquel Ferreira ao Diário Insular sobre a geminação das cidades de Angra do Heroísmo com Cartagena.

Angra do Heroísmo e Cartagena das Índias vão passar a ser cidades-irmãs. Porque decidiu a Câmara Municipal avançar com esta geminação?
Tal como Angra do Heroísmo, Cartagena das Índias desempenhou um importante papel na rota das Índias Ocidentais, tendo o seu porto comercial tido um importante papel durante o período colonial. Especialmente para escoar ouro e prata para a Coroa Espanhola, que nesse percurso, até Sevilha, passava obrigatoriamente por Angra. Quer o ouro e prata, quer outras mercadorias (especiarias, tecidos, loiças, etc) eram desembarcadas no istmo do Panamá, que interliga o Oceano Pacífico ao Oceano Atlântico, alcançando depois Cartagena das Índias, por terra, para serem novamente carregadas nas naus que seguiriam o seu percurso através do Oceano Atlântico, e reduzindo assim drasticamente o trajeto marítimo. Presentemente esta cidade colombiana é a quinta maior cidade do país, cujas maiores atividades económicas se destacam as indústrias marítima e turística.

Esta cidade detém a mais imponente fortaleza do Novo Mundo, o castelo de San Felipe de Barajas, que curiosamente foi ordenada construir por Filipe II, que ordenou também a construção da muralha do Castelo de São João Batispta, em Angra, ambas projetadas pelo mesmo engenheiro militar. Cartagena das Índias, tal como Angra, é cidade património da humanidade, classificada em 1984, tendo a sua arquitetura militar sido classificada em 2007, como a quarta maravilha da Colômbia.

E são estas algumas das razões que nos levaram a encetar esforços para avançar com esta geminação que esperamos poder melhor dar a conhecer Angra, a Terceira e os Açores na Colômbia, e na América do Sul, em geral, e assim permitir reatar laços históricos e aprofundar a troca de boas práticas, promover intercâmbios culturais e não só.

Um dos objetivos passará, então, por proceder a uma aproximação àquilo que foi a Rota das Índias. Estão previstas outras atividades, de âmbito cultural, no que diz respeito a esta rota histórica que envolveu, também, a ilha Terceira?

No próximo dia 21 de agosto, o Dia da Cidade, em que Angra celebra os seus 481 anos de elevação a cidade, celebrar-se-á a cerimónia oficial de geminação entre as duas cidades. Até lá iremos melhor definir os moldes dessa geminação, para que esta seja efetiva e proveitosa para ambas as partes.

Que vantagens podem decorrer deste acordo com aquela cidade colombiana?

As relações de proximidade que advêm das geminações são sempre vantajosas e esta não é exceção. Neste caso específico, em que ambas desempenharam um papel fundamental na Rota das Índias Ocidentais, creio existir, antes de mais, um interesse histórico. Aliás é pela nossa história que vimos Angra ser classificada como cidade património. Este é um estreitar laços que se perderam com o tempo, e caberá a ambos os municípios a promoção de iniciativas de desenvolvimento local de forma descentralizada. E será um primeiro passo para a promoção de cooperação entre ambos os municípios, abrindo um possível caminho para os desafios da competitividade e do desenvolvimento, ligados aos desafios da globalização. Cidades essas que tiveram um papel importante nessa globalização em tempos passados.

Angra do Heroísmo tem geminações com cidades como Tulare, Salvador da Baía, Évora, entre outras. Entende que as parcerias com estes lugares têm sido bem aproveitadas ou há possibilidade de haver uma maior exploração destas relações?

Angra tem mantido boas relações com as suas cidades-irmãs. Posso referir que no passado mês de março, no âmbito das Comemorações dos 50 anos de geminação com a cidade de Tulare, Estados Unidos, com a cidade de Angra do Heroísmo, e para assinalar o início das celebrações o município fez-se representar pelo vereador Guido Teles, participando também no congresso sobre a Educação e Cultura e estabelecendo contactos no âmbito do projctoStartUp Angra. Também em outubro de 2014, o presidente e vice-presidente da Câmara Municipal de Angra visitaram todas as cidades-irmãs dos Estados Unidos, resultando aí diversas parcerias.

Temos vindo a estreitar laços com as cidades-irmãs de Cabo Verde, Mindelo, e do Brasil, Florianópolis, que nos visitaram durante as Sanjoaninas de 2014. Em Fevereiro 2015 promoveu-se um intercâmbio cultural com a cidade de Mindelo, ilha de São Vicente, com a Marcha da Néné a participar nas festividades carnavalescas locais. Na edição das Sanjoaninas 2015 teremos a participação de grupos desta cidade-irmã, aliás, tal como de Gustine.

A nossa colaboração com Évora tem sido também reforçada por ambos os Municípios serem membros da Organização das Cidades Património Mundial e sermos parceiros em diversos projetos de âmbito internacional, como são o Artesanato e o Património, as Acessibilidades e Mobilidade nos Centros Históricos e em projetos direcionados para os mais jovens, de modo a que estes melhor conheçam e entendam o privilégio que é viver numa cidade classificada como património da humanidade e assim a estimem e se orgulhem da mesma.
Quanto à exploração das relações, mantenho a opinião que através de uma boa política de geminações, Angra poderá construir uma esfera diplomática de relacionamento com outras cidades internacionais, servindo de base para promoção exterior, estabelecendo parcerias estratégicas para o desenvolvimento local.

Pretendem estabelecer uma geminação com a cidade italiana de San Giovanni in Fiore, devido ao culto do Espírito Santo. Que relação poderá existir, nesse domínio, entre estes dois lugares?

Iniciámos esforços nesse sentido tendo em conta a importância do culto do Espírito Santo. Joaquim diFiore, foi um abade cisterciense defensor do milenarismo e do advento da idade do Espírito Santo, tendo-se dedicado ao estudo da Bíblia, procurando o significado mais profundo das Sagradas Escrituras. Nessa interpretação do texto sagrado existiram três estádios, ou Idades na História, no desenvolvimento do Mundo e da Igreja de Deus, correspondentes às três Pessoas da Santíssima Trindade. A Terceira, que há de vir, corresponde ao domínio da Terceira Pessoa. Será o advento do Império do Divino Espírito Santo, um tempo novo onde o amor universal e a igualdade entre todos os membros do Corpo Místico de Deus, isto é entre os cristãos, serão alcançados.

Aquando da instalação dos primeiros religiosos nas ilhas, o culto do Divino Espírito Santo, estava então em apagamento na Europa devido à crescente pressão da ortodoxia religiosa. Aqui, as crenças e ritos do Divino Espírito Santo ganharam raízes e recuperaram o seu vigor, reganhando um claro cunho joaquinista que ainda hoje está bem patente. Os Açores, e as comunidades de origem açoriana, constituem assim os últimos redutos onde as doutrinas de Joaquim de Fiore, sobrevivem, e pelas Irmandades do Divino Espírito Santo, mantêm todo o seu vigor.

Daí que poderão existir relações muito interessantes entre ambas as cidades nas tradições do culto do Divino Espírito Santo.

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