Endereço
Pátio da Alfandega9700-178 Angra do Heroísmo
Ilha Terceira, Região Autónoma dos Açores
Portugal
Apontamento histórico
A 15 de março de 1492 João Vaz Corte Real, primeiro Capitão do Donatário de Angra, terá firmado junto com João Borges (Ordinário de Angra), Afonso da Costa e outros confrades, um Compromisso, documento que definia os objetivos pelo qual se instituía nesta ilha a Confraria do Espírito Santo e o Hospital de Angra. As confrarias instituíam-se em templos, pelo que nessa data provavelmente já existia a Ermida de Santo Espírito, uma das primeiras da ilha, ou então surgiu logo depois, embora não se veja referida a intenção da Confraria do Espírito Santo na construção desse templo, mas sim na construção de um hospital. A Rua de Santo Espírito, que tomou o seu nome a partir do nome da ermida, será provavelmente a mais antiga a ligar a baía de Angra à Memória e ao Outeiro, onde a urbe ter-se-á desenvolvido nos seus primórdios, fazendo continuidade pela Rua da Garoupinha e Rua Frei Diogo das Chagas.
A Ermida de Santo Espírito localizava-se então sensivelmente onde hoje está a Igreja da Misericórdia, com a fachada virada à Rua Direita e tardoz para a Rua de Santo Espírito, possibilitando a prática da época de se orar virado para oriente, para Jerusalém. Porque aos Irmãos da Confraria do Espírito Santo assistia a prática das Obras de Misericórdia, nomeadamente a obrigação de enterrar os mortos, era no chão desta ermida que se faziam as inumações dos irmãos falecidos.
Nos anos que se seguiram a 1492 (há quem aponte a data de 1495) surgiu no lado nascente da Rua de Santo Espírito o Hospital de Santo Espírito, estabelecido logo depois de instituída a Confraria do Espírito Santo que se apressou a apresentar a El-Rei D. João II a pretensão de que este hospital, o primeiro dos Açores, tivesse real proteção, o que viria a ser aceite pelo seu sucessor El-Rei D. Manuel, por alvará em 15 de março de 1502, criando-se a obrigação de tratar não apenas a população necessitada, mas também de admitir os debilitados que chegassem das viagens marítimas. Era o grande e proveitoso refúgio de muitos enfermos e pobres da terra e de muitos mais que pelo mar vêm de fora, de muitas partes, por ser o porto desta cidade escala de muitas navegações.
A atual imponente e bonita Igreja da Misericórdia, pertença da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo, um dos principais símbolos da cidade, foi construída no século XVIII. Respeitando todas as formalidades, a 21 de outubro de 1728 foi lançada a primeira pedra para a construção deste sumptuoso edifício pelo Bispo da Diocese D. Manuel Álvares da Costa, a que assistiram autoridades religiosas, civis e militares e população em geral. A nova igreja, consagrada ao Senhor Santo Cristo cuja imagem aqui se venera foi construída no espaço ocupado pela anterior e por duas casas de habitação que foram demolidas, crescendo assim em todas as dimensões. Foi mestre desta grande obra o arquiteto Manuel d’Andrade, que fez dela uma das mais elegantes igrejas da ilha. Calcula-se terem sido gastos nesta grandiosa obra a quantia de 350 mil cruzados. Durou a sua construção quase duas décadas. A 4 de junho de 1746, por comissão do Bispo D. Fr. Valério do Sacramento, foi benzido este templo pelo vigário-geral Manuel dos Santos Rolim, mestre-escola da Sé.
Com o terramoto de 1 de janeiro de 1980 esta foi uma das igrejas menos afetadas em Angra, tendo servido como depósito de arte sacra, retirada de outras igrejas, a fim de que essas avançassem mais rapidamente no processo de reconstrução. Isso levou a que o restauro da Igreja da Misericórdia terminasse bastante tarde, tendo D. António de Sousa Braga procedido a 24 de maio de 1998 à bênção e reabertura deste templo.
Esta igreja recebeu no passado a visita de algumas figuras notáveis salientando-se no dia 1 de novembro de 1858 sua alteza real o infante D. Luís na sua passagem por esta Ilha ou, a 17 de junho de 2005 os reis de Espanha D. Carlos e D. Sofia, na companhia do Presidente da República Jorge Sampaio e mulher.
A Igreja da Misericórdia foi classificada como Monumento Nacional por Decreto n.º 95/78 de 12 de setembro. Mais tarde viria a ser incluída no conjunto classificado da Zona Central da Cidade de Angra do Heroísmo por Decreto Legislativo Regional n.º 29/2004/A, de 24 de Agosto.