Entrevista à Vereadora Raquel Caetano Ferreira no Diário Insular a 21 de fevereiro, referente Às iniciativas promovidas pelo Município Angrense com o objetivo de sensibilizar para a adoção e esterilização dos animais de companhia.
Diário Insular (DI:)
A autarquia de Angra do Heroísmo lançou uma campanha de sensibilização para a esterilização de animais de companhia. Qual é a importância desta medida no combate ao abandono?
Vereadora Raquel Caetano Ferreira (RCF:)
A esterilização é a medida mais eficaz no controlo da sobrepopulação de animais de companhia, daí a aposta nessa campanha, que se prevê ter resultados a médio-longo prazo, com mudanças de mentalidades e o despertar para esta necessidade.
Para as pessoas terem uma ideia, de acordo com dados da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) uma cadela e sua descendência podem gerar, ao fim de 7 anos, 67.000 novos cães e no mesmo período de tempo uma gata e descendência podem atingir 420.000 novos indivíduos. Estes números elucidam claramente porque é necessário esterilizar, pois efetivamente não existem lares para acolher todos estes animais, o que origina taxas de abandono bastante elevadas.
Em 2015 e 2016, em articulação com a Associação dos Amigos dos Animais da Ilha Terceira (AAAIT) foram promovidos dois seminários, para debate deste tema, para despertar a população para a necessidade da esterilização.
Para além da campanha de sensibilização para a esterilização, foi recentemente aprovado um regulamento para um programa de apoio à esterilização de cadelas e gatas no Concelho, o primeiro dos Açores. Para terem acesso a este benefício os requerentes devem submeter candidatura no Centro de Atendimento do município de Angra. Pretende-se assim promover a esterilização para além dos cães e gatos que são adotados do canil municipal.
DI: Há exemplos de países que conseguiram abolir o abandono, com esterilização obrigatória. É uma solução que Portugal devia adotar, na sua opinião?
RCF: Creio que sim. Na Holanda, só os criadores certificados estão isentos dessa obrigação, que está devidamente legislada. Foi promovida uma grande campanha de sensibilização e de apelo à esterilização com o apoio e financiamento das entidades públicas. Este é um exemplo de sucesso, em que a taxa de abandono de animais de companhia reduziu drasticamente e assim se tem vindo a manter desde a implementação desta obrigatoriedade.
DI: Para além de evitar o nascimento de ninhadas indesejadas, a esterilização tem vantagens para a saúde dos animais?
RCF: De um modo geral, os animais ficam mais calmos. Em termos de saúde, nas fêmeas, elimina a possibilidade de virem a contrair cancro do ovário ou do útero, e poderá evitar o desenvolvimento de tumores mamários. No caso dos machos, contribui para diminuir a agressividade para com outros machos, a demarcação de território com urina é menor, tendem a fugir menos e evita tumores vários.
DI: As autarquias de Angra do Heroísmo e da Praia da Vitória oferecem a esterilização das fêmeas adotadas no Canil Intermunicipal. Esta medida já é devidamente conhecida e solicitada?
RCF:No caso da Câmara de Angra do Heroísmo a medida existe já há alguns anos e é amplamente conhecida, no caso da autarquia da Praia é mais recente, mas a divulgação tem permitido que seja do conhecimento dos munícipes daquele concelho. Os gatos machos são também esterilizados no Canil Intermunicipal pelo médico veterinário municipal.
O que se está já a fazer com as fêmeas adotadas para o concelho de Angra, é entregá-las já esterilizadas. O mesmo é feito no canil da Associação dos Amigos dos Animais da Ilha Terceira, com sucesso, para garantir que os animais são efetivamente esterilizados. Além do mais, os cães, estão a sair dos dois canis a cumprir o estipulado pela lei, que é vacinados contra a raiva e com o microchip de identificação eletrónica, devendo os novos detentores registarem, obrigatoriamente, os mesmos na junta de freguesia da sua área de residência.
DI: Esta campanha envolveu os alunos das escolas primárias do concelho, que participaram com desenhos de animais. As gerações mais novas começam a ter uma maior sensibilidade para o bem-estar animal?
RCF: Sem dúvida que os mais novos começam a ser mais sensíveis, fruto do trabalho das escolas, mas também por ações de sensibilização que têm vindo a ser desenvolvidas não só pelas entidades públicas, como as Câmaras e a Direção Regional da Agricultura, mas também pelas Associações com intervenção na área e por alguns programas de televisão. Já no ano passado as escolas do Concelho de Angra foram convidadas a colaborar elaborando desenhos sobre o abandono e maus-tratos dos animais. Os desenhos são divulgados, diariamente, na página do facebook do Canil. Desses desenhos fez-se uma (árdua) seleção dos melhores de cada escola, para fazer o calendário de 2017, que foi entregue a todas as salas de aula do concelho. No ano de 2017, as escolas irão colaborar ao fazerem desenhos sob o tema da esterilização. Assim, esperamos alertar os mais novos para estas questões, para que no futuro sejam cidadãos activos e conscientes nestas matérias. Convidámos também as escolas do Concelho a visitarem o canil para perceberem melhor estas questões.
DI: A autarquia tem vindo a reforçar este tipo de campanhas de sensibilização, nos últimos três anos. Que efeitos já tiveram estas ações no número de abandonos e adoções?
RCF: Há já uma redução de entrada de animais no canil. Não é uma redução significativa, mas já é animadora. De 2015 para 2016, essa redução foi de praticamente 400 animais, sendo que a taxa de abandono é maior nos cães, especialmente nos de grande porte. As pessoas ao decidirem ter um animal de companhia devem ponderar seriamente as implicações desse compromisso. A fórmula, digamos, é ponderar se têm paciência, tempo, espaço ou alguma alergia a animais. A falta de qualquer um destes parâmetros conduz a abandonos. Também devem considerar se têm possibilidades financeiras para o ter. Os animais têm de estar registados na junta de freguesia de residência do detentor, devem possuir microchip de identificação eletrónica, necessitam ser vacinados, obrigatoriamente, para a vacina antirrábica, para além de despesas inerentes à alimentação e veterinárias.
As taxas de adoção aumentaram muito significativamente nos últimos anos, de uma taxa de 30%, em 2013, (apenas cães) para uma taxa de 90% nos gatos e 70% nos cães, em 2016. Recordo, que só a partir de Novembro 2013 é que o canil passou a integrar um gatil. Essa melhoria da taxa de adoção resulta de um reforço nas campanhas de sensibilização e numa aposta na divulgação diária nas redes sociais dos animais disponíveis para adoção, na articulação com a AAAIT e na divulgação que é feita por voluntários. É na melhoria destas parcerias e nas várias campanhas que esperamos que se mantenham e, se possível, melhorem as taxas de adoção. Esperando obviamente que a campanha para esterilização comece a surtir um maior efeito na redução do abandono. Desde 2014 foram já esterilizadas cerca de 500 fêmeas no Concelho de Angra, na sua grande maioria cadelas. E já se começa a verificar uma redução na entrega de ninhadas para adoção, quer no nosso canil, quer no canil da AAAIT.