Projeto “Artesanato Local e Poluição Visual”

A Câmara Municipal de Angra do Heroísmo aceitou o desafio lançado pela Organização das Cidades Património Mundial (OCPM), e tem vindo a realizar, desde agosto, uma entrevista por mês a um artesão local. O projeto “Artesanato Local e Poluição Visual” tem como objetivo demonstrar e divulgar as raízes e tradições de todas as cidades que fazem parte da organização, promovendo em simultâneo a arte e o artesão, com o intuito de solidificar a presença destas artes e ofícios tradicionais na comunidade local e dar a conhecer além fronteiras.

Este mês foi entrevistada a Sr.ª Mercês Sampaio, de 64 anos de idade e reformada, atualmente responsávelpelo espaço “Arte e Ponto Atelier”, na freguesia da Feteira.

Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (CMAH) – Com que idade começou a praticar a sua arte?

Mercês Sampaio (M. S.) – Comecei a praticar a minha arte quando estudava no liceu, por volta dos 12 anos.

CMAH – A família teve alguma influência no seu interesse por esta arte?

  1. S. – Claro que sim, posso considerar a minha mãe como tendo sido a minha formadora, aquela que me deu as bases e incutiu o gosto pelo bordado. Sendo ela bordadeira de profissão para uma agência de bordados, enquanto fazia serão, com luz fraca, sentava-me com ela na cozinha a bordar. Pedia-lhe um pano e tentava fazer os mesmos trabalhos que ela. Fui aperfeiçoando as técnicas ensinadas e aprendi por minha iniciativa. Hoje em dia a minha mãe admite que a minha técnica e os meus bordados são mais bem feitos do que os dela.

CMAH – Os seus filhos/familiares mais novos demonstram o mesmo interesse pela sua área?

  1. S. – Tenho dois filhos. A minha filha, devido à sua profissão, não dispõe de muito tempo para esta prática, no entanto ganhou o 1.º Prémio num concurso de bordados, por volta dos 10 anos, ensinada por mim e incentivada pela sua madrinha, bordadeira de profissão.

CMAH – O artesanato é a sua profissão ou é uma ocupação/fonte de rendimento extra?

  1. S. – Poderá ser considerada a minha profissão atualmente, mas acima de tudo um hobbie por o fazer com gosto.

CMAH – Sente dificuldade em captar/despertar o interesse das novas gerações pela sua arte?

  1. S. – Acho que não, primeiro tento perceber o que elas querem aprender, gostam de ver a evolução das coisas, ver trabalho feito.

A forma que tenho de cativar as pessoas mais novas é pondo em prática as suas ideias, mostrar que são possíveis de fazer e, ao ver o resultado final, ficam logo entusiasmadas.

Atualmente tenho no meu atelier cerca de 10 formandos. Recordo um workshop feito num colégio, para o dia do pai, em que o formando mais novo tinha 3 anos.

Regularmente a média de idades dos formandos anda à volta dos 25 a 30 anos mas o meu atelier é muito procurado e frequentado por senhoras mais idosas que bordam em conjunto, trocam ideias e recordam os serões de antigamente.

CMAH – Classifique a evolução da sua arte nos últimos 20 anos ?

  1. S. – A meu ver, evoluiu muito para todos nós, mas acima de tudo é necessário que haja criatividade.

CMAH- Qual a sua maior fonte de rendimento a nível de clientes? Habitantes locais ou turistas ?

  1. S. – Poderia dizer que são os turistas, se estes passassem mais por aqui, no entanto sou mais procurada pelos próprios emigrantes que compram os meus trabalhos para levarem como recordação ou para oferta.

CMAH – As suas vendas variam com a sazonalidade (épocas do ano, Verão vs Inverno) ?

  1. S. – Vendo mais durante o verão pois participo nas feiras de artesanato organizadas pelos dois concelhos da Terceira, Angra do Heroísmo e Praia da Vitória. Conhecem mais o meu trabalho devido às exposições em que participo no exterior.

Durante o inverno as minhas vendas centram-se nas feiras, ou pelas pessoas que me procuram para uma compra específica.

CMAH – Como analisa a continuidade e longevidade da sua área de artesanato ?

  1. S. – Vejo continuidade na minha área de artesanato tendo, inclusive, já agendada uma formação de bordados para breve.

CMAH – Qual o fator que mais diferencia a sua arte das outras ?

  1. S. – De momento estou a criar uma linha de colares e brincos feita com o bordado tradicional, bem como a utilizar a técnica de rabo de gato para fazer colares com grandes medalhões.. É algo inovador e que vai de encontro aos gostos dos mais novos.

CMAH – Se tivesse que expor o seu trabalho em algum país europeu, qual escolheria? Porquê?

  1. S. – Preferia fazer uma exposição fora da Europa, nomeadamente nos Estados Unidos da América pela quantidade de emigrantes que lá existe e que, de certeza, ficariam encantados com estes trabalhos.

CMAH – Na sua opinião, como classifica os apoios dados ao artesanato?

  1. S. – Considero que existem apoios suficientes mas que poderiam ser feitas mais feiras e exposições sendo que estas são, provavelmente, a melhor forma de divulgar e publicitar aquilo que é nosso.

CMAH –Atualmente fala-se muito na modernização dos processos de artesanato, concorda? Porquê?

  1. S. – O bordado industrial não pode ser considerado artesanato por ser uma máquina a fazê-lo. Nunca pode ter o mesmo “valor” do bordado à mão. No entanto, as pessoas querem a qualidade do bordado à mão pelo preço do bordado industrial e é-lhes difícil perceber a diferença de preço entre o industrial e o artesanal.

CMAH – Qual foi o momento mais feliz/marcante da sua carreira, o mais difícil e o mais engraçado ?

  1. S. – O meu momento mais feliz foi, sem dúvida, a concretização do projeto de construção do meu atelier.

O meu momento mais difícil foi a perda do meu marido. Houve uma quebra nos primeiros dois anos após o seu falecimento mas o artesanato foi uma forma de ultrapassar essa fase mais difícil, uma forma de me manter ocupada.

Por último o momento mais engraçado, mas também o mais gratificante, é o de ver o entusiasmo da minha neta em querer aprender este ofício. Com apenas 6 anos, já vem para o atelier pintar e recentemente começou a bordar e a fazer rabo de gato comigo.Também faz a técnica do guardanapo e utilização de produtos reciclados.

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